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O que você vai ser quando crescer?

Por Colégio Anchieta - 19/07/2022 12h02
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O que você vai ser quando crescer?

As crianças precisam crescer para ser?

A infância precisa ser compreendida como uma etapa da vida que tem importância em si e não como uma preparação para o futuro. Numa concepção contemporânea, concebe-se a criança como um sujeito heterogêneo e atuante, um ativo construtor social. A criança é um sujeito completo e tem seus direitos garantidos.

A palavra infância diz respeito aos anos iniciais de vida de uma pessoa. Ela traduz a incapacidade, a carência de fala.  Tem origem no latim infantia, do verbo fari = falar, onde fan = falante e in constitui a negação do verbo. Portanto, infans refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar. A etimologia da palavra infância propõe um sentido negativo, ao caracterizar infância como a idade do não-falante. Principalmente numa concepção contemporânea de infância, num momento em que se discute a necessidade da criança ser protagonista da sua história, sendo verdadeiramente escutada.

Na relação pedagógica, a escuta é considerada uma “metáfora para a abertura e a sensibilidade de ouvir e ser ouvido”; isso envolve mais do que o educador ouvir a criança com os ouvidos, é preciso usar todos os sentidos para conhecer as suas necessidades e interesses. A criança “fala” por meio de múltiplas linguagens, sobre si e o mundo, o que revela, a quem se permite ouvir, a complexidade das crianças, na medida em que elas estão imersas em um universo de descoberta, de espanto, de curiosidade, de fantasia, enfim, de relações e experiências com a vida.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta seis direitos de aprendizagens: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. A partir deste direito ao brincar, garantido às crianças pela BNCC, entendemos que cabe aos adultos a responsabilidade de possibilitar brincadeiras e experiências, a fim de promover desenvolvimento e aprendizagem das crianças. No entanto, é preciso atribuir sentido e significado ao brincar, que deve ser incorporado ao cotidiano escolar, não somente por constar como indicação do documento oficial norteador desse segmento, mas sim pela consciência e pelo conhecimento da importância deste brincar.

A criança pensa, age e sente, se realiza e se constrói, movida pelo desejo, pelos sentidos, pelo movimento e pela expressão corporal. As crianças percebem o mundo e o sentem de forma diferenciada do adulto. Elas precisam brincar e fantasiar para compreender o mundo, ou seja, experimentar, através do simbólico, o mundo real e suas relações contraditórias.  A Educação Infantil deve criar condições para que a interação entre a criança e a realidade ocorra de forma eficaz, prazerosa e lúdica. A brincadeira é uma das linguagens que mais aproxima a criança do mundo, sendo uma importante forma de comunicação. Brincando, a criança conhece o mundo, aprende, desenvolve competências e habilidades para vida. Brincando, a criança percebe seus limites e possibilidades, desenvolve expressividade, autonomia, a capacidade de tomar decisões, de resolver problemas.

A brincadeira favorece ainda a compreensão e a importância das regras sociais. Para tanto, é preciso que a criança seja vista de forma plena, pois ela vai aprender com o corpo inteiro e não apenas com a mente

Será que as crianças precisam crescer para ser? Ou a criança é um ser sendo?

Cada país, cada estado, cada cidade deve garantir os direitos básicos de todas as crianças, “a criança, em virtude de sua falta de maturidade física e mental, necessita de proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal, tanto antes quanto após seu nascimento”. No Brasil, há ainda o Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece as normativas para o Estado e para a sociedade na garantia dos direitos das crianças e adolescentes. Infelizmente, segundo as instituições de apoio à infância, quando a pessoa é criança não significa necessariamente que ela vive sua infância. Com as violações aos direitos e com os índices de vulnerabilidade social e individual das famílias, muitas vezes, a criança é privada de sua infância e da fase em que deveria ter acesso a recursos e serviços que garantam seu pleno desenvolvimento.

É possível dar vez e voz para a criança, criando tempos e espaços na família, na escola, na comunidade, promovendo autonomia, de preferência em contato com a natureza e redução de estímulos artificiais. O desafio é, nos cotidianos acelerados em que vivemos, criar pausas para que as crianças vivam suas infâncias e os adultos possam fazer essas escutas. Um provérbio africano diz “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. A criança aprende com o mundo que a rodeia. A grande aldeia que é a sociedade contemporânea deve proteger e educar suas crianças, em especial no período da primeira infância, quando as conexões são ainda mais importantes.

Cabe então, à escola, como parte da grande aldeia global, focar no protagonismo infantil, de forma que a criança aprenda, se desenvolva e seja tratada como ela mesma, favorecendo com isso que cada uma possa viver plenamente a sua infância, como produtora de sentido. A escola deve ser um contexto cercado de sensibilidade aos desejos das crianças, observando e respeitando seus movimentos e atitudes, escutando suas falas e seus silêncios.

 

Virginia Mustafa Navarro Lucas

Pedagoga com especialização em Psicopedagogia,

Gestão e Psicomotricidade.

 

Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, 1998.

BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266>. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.

Declaração dos Direitos da Criança. Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, nº 1386 (XIV), de 20 de novembro de 1959.

DELORS, J. et. al. (1998) Educação: um tesouro a descobrir: relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília, DF.: MEC: UNESCO.

DOLTO, F., & Nasio, J. D. (1991). A criança do espelho. Porto Alegre, RS: Artes Médicas

FALK, Judit (org). A abordagem Pikler – Educação Infantil. São Paulo: Omnisciência, 2016.

FRIEDMANN, Adriana A vez e a voz das crianças: escutas antropológicas e poéticas das infâncias. São Paulo: Panda Books, 2020.

KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. São Paulo: Cortez, 1997

RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

SARMENTO, Manoel Jacinto. Gerações e alteridade: interrogações a partir da sociologia da infância. Educação & Sociedade. Campinas, 2005.

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https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_universal_direitos_crianca.pdf

https://www.defensoriapublica.pr.def.br/2020/08/2008/Infancia-A-fase-mais-importante-de-nossas-vidas. html#:~:text=Com%20as%20viola%C3%A7%C3%B5es%20aos%20direitos,do%20N%C3%BAcleo%20da%20Inf%C3%A2ncia%20

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