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Com que letra?

Por Colégio Anchieta - 22/09/2022 8h07
Blog AquariusBela Vista InfantilFundamental I

A aprendizagem se dá ancorada num tripé: cognição, afeto e movimento.

O movimento não serve apenas para executar aquilo que a criança deseja, a partir dele também se forma a identidade e a personalidade única de cada pessoa. Entender os movimentos é um jeito de interpretar a forma com a qual a criança compreende o mundo. Através do controle motor, a criança explora o ambiente, realiza experiências, desenvolve seu corpo e sua mente, constrói conhecimento a respeito de si e do mundo que a cerca.

Quando uma criança se movimenta, ela tem a chance de interagir com o mundo. A criança, então, usa as impressões que absorveu de cada interação para constituir-se em um corpo que trabalha integrado. Ao final da Educação Infantil, muito antes de iniciar a letra cursiva, é preciso observar a criança, a sua postura, o seu equilíbrio e a sua coordenação óculo manual. Para a criança integrar o movimento das mãos com os olhos é preciso dissociação de membros, dissociação articular, que acontece com o estímulo de sensações e força nas mãos. Antes de escrever com a cursiva, a criança precisa pular, correr, subir, descer, amassar, descascar, alternar os pés, rasgar, cortar, puxar, apertar, explorar objetos e explorar a natureza.

Na Educação Infantil, a criança precisa brincar! Brincando, o corpo da criança trabalha em sistemas integrados, o equilíbrio e a atenção, o movimento e o sensorial, o motor e o visual, enfim, sistemas necessários para a aquisição da escrita. Muita coisa precisa ser feita antes de ler e escrever de forma convencional.

As crianças aprendem por aproximações sucessivas, então, aprendem a fazer, fazendo. Aprendem a andar, tentando andar, levantando e caindo, segurando nas mãos dos adultos. Aprendem a falar, falando, fazendo balbucios, pedaços de palavras aos quais o adulto vai atribuindo sentido e comemorando a cada conquista. Aprende-se a ler e escrever, lendo e escrevendo. Desde que nascem e entram em contato com o mundo letrado, as crianças estão aprendendo a ler.

É comum vermos crianças pequenas lendo e escrevendo. Isso acontece naturalmente, devido ao contato que essas crianças têm com o mundo letrado. Não deve ser expectativa de aprendizagem da Educação Infantil que a criança leia e escreva. Até os cinco anos a criança tem muitas competências e habilidades fundamentais para desenvolver a partir da brincadeira, da interação com o mundo e com seus pares. Aprender a ler e escrever é mais do que decodificar palavras e sons. O processo de alfabetização envolve o contato com práticas sociais de leitura e escrita desde a Educação Infantil. Porém, a sistematização da leitura e da escrita deve acontecer a partir do 1° ano do Ensino Fundamental, esse também é o momento ideal para se trabalhar a letra cursiva.

Brincando, a criança se movimenta e se percebe, desenvolve esquema e imagem corporal, adquire orientação no espaço e no tempo que estão ligadas ao ritmo, e esse ritmo será fundamental para a escrita. Sem o movimento do corpo não é possível a maturação motora e sensorial. A criança precisa da percepção do corpo para organizar e planejar ações. Então, não adianta antecipar o “treino” da letra cursiva quando a criança ainda não sabe comer sozinha. Não faz sentido escrever “ de mãos dadas” quando a criança ainda precisa de ajuda para ir ao banheiro. É mais importante subir e descer as escadas com autonomia do que cobrir tracejados em cadernos de caligrafia.

Uma criança precisa, por exemplo, pular corda, sabia?!

Pular corda é uma atividade de refinamento motor. Uma criança que pula corda com desenvoltura, provavelmente, estará preparada para ler e escrever. Essa atividade, aparentemente simples, exige integração sensorial e motora. Ao pular corda, a criança precisa de equilíbrio dinâmico e estático, orientação espacial, lateralidade, ritmo e coordenação viso motora. Pular corda é muito mais importante do que fazer letra cursiva antes dos seis anos.

Mas, com todo o avanço da tecnologia, aprender a letra cursiva ainda é importante?

A letra cursiva atribui maior velocidade à escrita, uma vez que o lápis não sai do papel. As paradas da letra de bastão seriam responsáveis por torná-la mais lenta. A letra cursiva, por ser mais rápida, favorece a concentração, o foco e auxilia na produção de textos mais coesos. O traçado da letra cursiva demanda   habilidades sensoriais, noções de orientação espacial, aprimorando a motricidade fina. O traçado da cursiva estimula o desenvolvimento do pensamento, da linguagem e da memória de trabalho.
Alguns documentos ainda exigem uma assinatura tradicional, havendo a necessidade de saber escrever com a letra cursiva.

Durante a Educação Infantil, a criança deve ter oportunidades de escrita espontânea (aproximações sucessivas), de escrever do seu jeito e de levantar hipóteses sobre a escrita e, para isso usar a letra bastão, cujo movimento é simples (círculo e reta). Assim, a criança poderá se apropriar de atitudes e comportamentos que envolvam a leitura e a escrita, mesmo que ela não saiba escrever convencionalmente. Esse contato é fundamental para a criança construir conceitos importantes para ler e escrever com autonomia no futuro.

As crianças precisam conhecer, diferenciar e relacionar todos os tipos de letras.

O ideal é que a letra cursiva seja inserida no processo de aprendizagem após a primeira etapa de sistematização da leitura e da escrita. Desse modo, as crianças podem se concentrar nas curvas e desenhos das letras, sem se preocupar tanto com a construção de palavras. O trabalho com a cursiva pode iniciar no 1° ano do Ensino Fundamental e continuar até que a criança garanta o traçado ao longo do primeiro ciclo.

O desenvolvimento motor necessário para a escrita começa na Educação Infantil e continua no Ensino Fundamental. Situações como as que citamos aqui, desde pular corda até descascar as frutas do lanche, favorecem a habilidade motora para a escrita. Um caderno de pauta dupla pode ser um complemento, mas não o único estímulo, muito menos o mais importante.

O olhar das crianças para a escrita nos revela a possibilidade de criar, construir e registrar o que elas pensam e sentem. Enquanto a criança escreve também constrói memórias afetivas no cotidiano da infância em nossas escolas. O olhar do educador que pensa, escuta e sente, deve potencializar o olhar da criança, ampliar, identificar e reconhecer a importância da educação do olhar e da escuta, acreditando nesse sujeito-criança que olha, lê e interpreta o mundo com todas as letras.

 

Virginia Mustafa Navarro Lucas

Diretora do Colégio Anchieta (ANCHIETINHA-Aquarius)

Pedagoga com especialização em Psicopedagogia,

Gestão e Psicomotricidade.

 

 

Referências

A mente da criança: mente absorvente, Maria Montessori. Editora Kirion.

Escrever e Ler: como as Crianças Aprendem e como o Professor pode Ensiná-las a Escrever e a Ler – Volume 1, Lluis Maruny Curto, Maribel Ministral Morillo, Manuel Miralles Teixidó. Editora Artmed. Porto Alegre,2000.

https://institutoneurosaber.com.br

ESCOLA, LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS

Ana Maria Kaufman , Maria Elena Rodriguez Editora Artmed. Porto Alegre, 1995.

Observação, registro e reflexão. Instrumentos Metodológicos I. Madalena Freire. São Paulo : Espaço Pedagógico, 1996.

Psicomotricidade e suas implicações na Alfabetização. Adriana Falcão Duarte. São Paulo: AllPrint Editora,2015.

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